Literatura: valores estéticos e componentes históricos

Nenhum resumo dará ao leitor acesso integral ao sentido da obra

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O objetivo desta seção é demonstrar para os leitores da Elite a complexidade das questões propostas para a prova de Literatura.

Com isso, pretendemos também afirmar que a leitura das obras indicadas pelos vestibulares é indispensável, pois é através do contato com o texto integral que podemos desenvolver percepções e entendimentos que subsidiarão as respostas esperadas pela banca. Nesse sentido, as análises das produções selecionadas são de fundamental importância, pois nos esclarecem questões implicadas nos textos, muitas delas não captadas num processo de leitura às vezes raso e pouco revelador.

Polêmicas à parte, a decisão é de cada um, e não vou dizer que os resumos também não ajudem. Atenção: eu disse “também”. Acho realmente que, depois da leitura de um livro, consultar essas fontes é uma decisão sensata, que poderá confirmar ou corrigir determinadas compreensões. Atenção outra vez: eu disse “depois”. Porque, ainda que muito bem elaborado, nenhum resumo dará ao leitor acesso integral à obra. E não estou falando apenas de detalhes, mas sobretudo da linguagem e do estilo do autor – aspectos que vão muito além da história ou de uma lista de características que não são suficientes para o que se espera dos candidatos.

Recentemente, pesquisadores identificaram a presença de Machado de Assis entre os convidados da família imperial brasileira para a missa campal realizada em comemoração à abolição da escravatura. A fotografia mostra participantes da missa ocorrida no dia 17 de maio de 1888 no Campo de São Cristóvão, Rio de Janeiro, com a presença da princesa Isabel, do Conde D’Eu e de outras celebridades do Império, além do escritor (no destaque, circulado).

Observe a fotografia e leia o trecho de Quincas Borba:

Antonio Luiz Ferreira. Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil, 1888. São Cristóvão, Rio de Janeiro. Fonte: Acervo Instituto Moreira Salles.

“Na esquina da Rua dos Ourives deteve-o um ajuntamento de pessoas, e um préstito singular. Um homem, judicialmente trajado, lia em voz alta um papel, a sentença. Havia mais o juiz, um padre, soldados, curiosos. Mas, as principais figuras eram dois pretos. Um deles, mediano, magro, tinha as mãos atadas, os olhos baixos, a cor fula, e levava uma corda enlaçada no pescoço; as pontas do baraço iam nas mãos de outro preto. Este outro olhava para frente e tinha a cor fixa e retinta. Sustentava com galhardia a curiosidade pública. Lido o papel, o préstito seguiu pela Rua dos Ourives adiante; vinha do Aljube e ia para o Largo do Moura.

Rubião naturalmente ficou impressionado. Durante alguns segundos esteve como agora à escolha de um tílburi. Forças íntimas ofereciam-lhe o seu cavalo, umas que voltasse para trás ou descesse para ir aos seus negócios – outras que fosse ver enforcar o preto. Era tão raro ver um enforcado! Senhor, em 20 minutos está tudo findo! – Senhor, vamos tratar de outros negócios! E o nosso homem fechou os olhos, e deixou-se ir ao acaso.”

Machado de Assis. Quincas Borba.

A relação entre a obra de Machado de Assis e a questão afrobrasileira é complexa. Ao longo do século XX, houve o que a crítica chamou de um “branqueamento” da figura desse que é considerado nosso maior escritor.

A-A partir do trecho citado do romance Quincas Borba, é possível caracterizar o personagem Rubião como um apoiador do abolicionismo? Justifique sua resposta.

B-Explique a tensão entre a fotografia e o excerto, considerando a caracterização da sociedade brasileira do fim do século XIX, tal como representada no romance.

“(…) O Expressionismo foi uma estética que se manifestou primeiro na pintura, na segunda metade do século XIX, tendo entre seus pioneiros o pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) e o pintor norueguês Edward Munch (1863-1944). Em Van Gogh é como se o vigor das pinceladas e a violência das cores passassem a ser mais importantes do que a perfeição geométrica do desenho. Isso porque, para o expressionista, bem mais importante do que fotografar objetivamente a realidade, é expressar (daí o adjetivo expressionista) subjetivamente o choque da realidade no ser humano.”

A-A partir do texto, aponte dois aspectos da estética expressionista na obra Os ratos, de Dyonélio Machado. Justifique a sua escolha.

B-Os traços expressionistas de Os ratos aproximam a obra dos padrões literários do chamado regionalismo de 1930? Explique.

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Escrito por:

Emerson Rossetti

Professor com mais de 30 anos de experiência no ensino médio e superior. Formado em Letras, com Doutorado em Estudos Literários, desenvolve trabalhos voltados também para o estudo da MPB e da História da Arte.

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