Sabe-se que a leitura é um poderoso instrumento de formação de consciências e combate aos abusos impostos àqueles que têm seus direitos – muitas vezes básicos – subtraídos pelas vias da ignorância e da alienação.

(SCHULZ, Charles M.. Disponível em: http://leituraensino.blogspot.com/. Acesso em 30-12-2024).
Como se diz por aí, no que se refere à competência leitora, nossa situação seria cômica se não fosse trágica. Lemos pouco, lemos mal e abandonamos esse hábito quanto mais envelhecemos.
É preciso dizer que não se trata somente de um problema escolar, mas social – e nesse ponto as coisas assumem uma dimensão ainda mais séria, pois já não estamos falando de notas e boletins, mas de senso crítico e progresso em todos os segmentos da sociedade.
Vou explicar melhor. Em 1988, o crítico Antonio Candido (a vontade de pôr os acentos é quase irresistível!) escreveu “O direito à literatura”, defendendo que ela deve ser tratada como um direito humano. Para tanto, justifica que o processo de interpretação aplicado à análise de um texto literário nos ensina a trilhar percursos e raciocínios os quais, posteriormente, tornam-se mecanismos passíveis de serem utilizados para o entendimento do mundo do qual fazemos parte. Sendo assim, as “operações mentais” que desvendam um texto também revelam a sociedade como ela é: o que é verdade ou não, a intencionalidade das promessas tantas vezes incompatíveis com a realidade, a artificialidade dos discursos que induzem à submissão das pessoas em detrimento do legítimo exercício de liberdade e opinião, etc.
Em outras palavras, ler é um gesto de recusa à tentativa de nos manterem escravos dos interesses e privilégios daqueles que detêm o poder. Mais: a consciência adquirida na compreensão do funcionamento da máquina social não se conforma ao silêncio, levantando-se para exigir reparos sobre um velho problema: para poucos, muito; para muitos, pouco. Por isso querem que fechemos os livros – um jeito seguro para que as coisas continuem como estão. Que história é essa?!