Se há por aqui uma frustração coletiva é a de não termos um Oscar. Temos heróis na história, no esporte, até na política e na ciência, mas a estatueta até agora não deu o ar da graça. Em 1999, batemos na trave; quando todos achavam que era impossível superar Fernanda Montenegro, eis que a Academia cometeu o que entre os brasileiros tem sido tratado como uma injustiça irreparável: Gwineth Paltrow levou a melhor pela atuação em Shakespeare Apaixonado.
Mas Walter Salles está outra vez em cena com uma obra de indiscutível qualidade. Desta feita, outra Fernanda, Torres, a filha, já premiada pelo Globo de Ouro, é que está arrancando elogios mundo afora pela maneira como deu vida a Eunice Paiva, personagem principal de Ainda estou aqui (2024).

(Cartaz de divulgação. Disponível em: https://sismmar.com.br/momento-cultural-filme-ainda-estou-aqui-2024-no-shopping-pinheiros/. Acesso em 02-01-2025).
Tenho pensado que a nossa ansiedade por reconhecimento é mais uma consequência daquele complexo de país colonizado que precisa mostrar para os outros que, independente, já cresceu e sabe o que e como fazer. Neste caso, ao menos, acho bobagem. O filme já cumpriu seu papel maior e mais desafiador: comover, provocar reflexão, alertar para o perigo dos abusos praticados pelas instituições e, além de tudo, levar os brasileiros outra vez aos cinemas – a obra é a nossa maior bilheteria.
Num país ultimamente tão dividido pelos discursos extremistas e posturas radicais, o longa de Salles criou uma oportunidade de reencontro com as pessoas e as causas de paz, um sentimento de integração e justiça, e, mais importante, a consciência de que o sorriso continua sendo a melhor forma de mostrar que resistimos, até se não formos premiados. Ainda estou aqui é coisa nossa, legítima, produção da melhor safra da arte nacional, e tenho certeza de que ninguém neste mundo sabe disso mais do que nós, que continuamos em pé, aplaudindo orgulhosos, sem necessidade de aprovação alheia.